Interpretação e Resumo sobre o capítulo 1 da sociedade do cançaso
Introdução
Estava conversando com meu bom amigo Fábio Takahashi sobre como estou de saco cheio das redes sociais e sobre como estou buscando uma vida mais leve. Ele, sabiamente, me perguntou: “Já leu Sociedade do Cansaço? É de um filósofo coreano, e ele meio que apresenta sua visão sobre o motivo de todo mundo estar meio ‘frito’ atualmente, basicamente porque, na nossa época, somos ao mesmo tempo os ‘fazedores’ e os ‘cobradores’ de nossas próprias atitudes.”
Como o livro é curtinho (80 páginas), pensei comigo: “Vou ler esse livro numa sentada e assim terei conteúdo para um post no blog.” Mas, como diria Joseph Climber: a vida é uma caixinha de surpresas. Achei o livro um inferno de ler. Difícil, repleto de conceitos que não entendo, com uma linguagem rebuscada, indo e voltando a partes estranhas e me fazendo sentir burro. Isso me lembrou bastante meus primeiros dias de trabalho…
Dito isso, decidi que vou comentar capítulo por capítulo.
O livro foi escrito pelo filósofo coreano Byung-Chul Han e sua ideia principal é a de que estamos saturados das coisas porque sofremos de uma sobrecarga cognitiva de elementos positivos o tempo todo. Por isso não descansamos direito nem aproveitamos o momento, o que nos leva a um estado de cansaço constante.
Ma bene, allora, vamos ao que interessa: meu entendimento e resumo do capítulo 1: Violência Neural.
Violência neural
O primeiro capítulo busca definir o conceito de violência neural. A ideia central do capítulo (reiterada diversas vezes) é a de que nossa sociedade está adoecendo, mas de uma maneira diferente da que costumamos observar. Não se trata de algo como uma pneumonia ou a epidemia de AIDS, pois não é uma doença causada por vírus ou bactérias, e sim uma doença de caráter neuronal.
O primeiro ponto que me chama a atenção é a afirmação do autor de que estão aumentando os casos de TDAH, transtorno de personalidade limítrofe e síndrome de burnout. Entretanto, recordo ter lido, em outros lugares, que essas enfermidades sempre existiram em grande quantidade; o que aumentou, na verdade, foi o número de diagnósticos. Não sei ao certo a veracidade dessas informações, mas achei importante ressaltar essa perspectiva.
O segundo ponto que me chama a atenção é que ele argumenta que essas coisas acontecem não pela existência da negatividade como um vírus, mas pela existência do excesso de positividade. Mas sabe por que ele me chama a atenção? Porque ele não define o que é essa positividade. Passei o capítulo inteiro sem entender o que é essa positividade que esse corno diz. AAAAAHHH.
Para ser justo, o autor dá algumas pistas sobre o que seria a positividade. Ela seria o oposto da negatividade. A negatividade se relaciona a algo externo ou estranho ao nosso organismo e que é tratado como um invasir a ser eliminado. A positividade teria origem interna. O problema surge porque, ao longo do último século, aprendemos a lidar apenas com o que é externo, e não sabemos lidar com o que não vem desse “outro”.
Nesse ponto, o autor faz uma conexão interessante. O conceito de “outro” é estendido, não apenas a na relação entre corpo/micro-organismos, mas também na relação entre sociedades. Dessa forma, os movimentos imunológicos do corpo funcionariam de forma análoga aos movimentos imunológicos da sociedade. A Guerra Fria é um exemplo: nesse caso a sociedade capitalista percebia a sociedade comunista como um estranho ou algo externo a ser combatido.
Com o fim da Guerra Fria, nossa percepção de sociedade mudou. Antes, o outro era encarado a partir da ótica da alteridade – um ser estranho, potencialmente hostil, que precisava ser eliminado. Agora, a sociedade encara o outro sob o prisma da “diferença”. E é essa nova ótica da diferença que estaria levando a sociedade ao adoecimento.
Nesse cenário, nossa sociedade age como um organismo sem um sistema imunológico. Assim, o diferente é algo que se consome ou visita. Todo esse processo de encarar a sociedade com base no outro, na alteridade, é chamado de paradigma imunológico, e a sociedade que vive esse paradigma é denominada sociedade imunológica.
As mudanças sociais ocorreram porque a sociedade imunológica não é compatível com o processo de globalização que se acentuou pós guerra fria. Sociedades imunológicas erguem barreiras, protegem fronteiras e limitam o tráfego de estrangeiros, enquanto a globalização derruba esses obstáculos.
O capítulo termina explicando que tanto uma sociedade “negativa” quanto uma sociedade “positiva” apresentam violências. A violência da sociedade negativa deriva desse processo de “imunorreação” diante do contato com o outro. Aqui surge mais um ponto problemático no capítulo: da mesma forma que o autor não esclarece o que é positividade, ele tampouco elucida o que entende por violência causada pela positividade.
Entretanto, o autor aponta que a causa dessa violência positiva está no excesso: superprodução, superdesempenho ou supercomunicação. Como não temos uma resposta imunológica para essa violência e para esses excessos, acabamos esgotados e exaustos. Esses sintomas são manifestações da violência neuronal, conceito que dá nome ao capítulo.
Conclusão
Prefiro mil vezes ler um manual técnico de MIPS a continuar lendo esse livro. Porém, sou brasileiro e não desisto nunca. Me senti naquele vídeo do Clóvis de Barros mandando ler com brio. Não é uma leitura fácil, tive que ir e voltar várias vezes porque me perdia no meio do parágrafo. Porém, após escrever as notas, a leitura ficou mais fácil.
Algumas coisas nesse primeiro capítulo que me incomodaram bastante, a falta de definição clara sobre o que é uma sociedade positiva e das suas violências é algo assim. Senti que o autor ficou muito tempo preso nesse paralelo de imunidade, outro e sociedade que acabou deixando o texto mais confuso do que realmente é. Apesar disso tudo, sobrevivi. Espero que esse texto fique claro também para quem for lê-lo.
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