Post

Minha jornada na carreira de programação parte 2

Seguimos na escrita de textão sobre a minha jornada no mundo da programação. No último texto nós paramos comigo indo para a Estônia e porque lá deu errado. Por causa de uma série de erros meus, minha entrada ao país foi barrada. Quando o oficial da imigração disse que eu não ia entrar no país, uma série de sentimentos ruins veio sobre mim: culpa, raíva, desgosto, incomodação, etc. Nesse ponto, o apoio da Seicho-no-Ie foi fundamental para eu me manter firme. Lembro que eu estava extremamente para baixo esperando meu voo de volta para o Brasil quando li “o filho de Deus nunca erra”. Essa frase simples me encheu de força de vontade. O que havia ali não era um erro, mas um aprendizado (caro pra caramba, doloroso e complicado, mas ainda assim um aprendizado). Eu precisava saber qual era. Falando dessa forma, pode parecer que eu tava tranquilo e de boas, porém eu não estava. Fiquei com medo, assustado e me culpando.

Voltei para Floripa no dia 15 de outubro de 2018. Meus amigos fizeram uma surpresa muito fofa para me receberem. Me senti um pouco menos mal nesse dia. Estando de volta ao Brasil, trabalhei alguns dias com minha mãe enquanto decidia o que fazer da minha vida. Eu estava com 27 anos, ainda tinha algum dinheiro guardado e poderia fazer qualquer coisa da minha vida. Era uma posição muito poderosa, muito ampla e, ainda assim, muito agoniante. Resolvi que ficaria por Floripa, iria ganhar menos, mas teria estabilidade familiar e amigos. Em novembro retornei um rolo com uma garota extremamente esquentada, companheira e linda chamada Bruna (guarde esse nome ele vai ser importante no futuro). Também eu comecei a procurar emprego. Nesse processo eu pude notar como eu era defasado: não sabia o que era mensageria, docker, NoSQL, microsserviços, etc. Tinha uma ideia de pretenção salarial R$9100,00. Notei rapidamente que minha pretenção estava acima do mercado de Floripa. Porém, num lance de sorte, consegui emprego na V2com como arquiteto de software recebendo o salário de São Paulo (R$9.000,00). No dia primeiro de dezembro de 2018, me avô retornou ao mundo espiritual. Ele era como um pai para mim e tenho certeza de que se eu estivesse estabelecido na Estônia, eu não teria resistido ao luto.

O ano de 2019 foi um ano de me adaptar ao novo e a vida que eu hávia escolhido. Me novo emprego, ao novo local de moradia, ao novo relacionamento (comecei a namorar com a Bruna), enfim, o novo tudo. Trabalhando na V2com, senti que estava atrasado em relação aos meus colegas de time. Qualquer coisa que eu queria fazer era sempre extremamente complicado e cheio de dificuldade. Mais do que isso, eu senti que eu estava me chamando de arquiteto sem saber exatamente o que um arquiteto de software faz. Então fui fazer um curso de MBA em arquitetura na IGTI para ter essa definição correta. Os comentários sobre minhas experiências e opinião sobre a IGTI ficarão para outra postagem.

No ano de 2020 foi quando a pandemia do COVID bateu com tudo no Brasil. No começo eu me deixei levar pelo medo e o caos, umas duas semanas depois, parecia que eu estava no começo. A TV ficava ligada o dia todo e era o dia todo tendo novidades ruins sobre o caos que estava o mundo. Minha super namorada ofereceu de irmos morar juntos durante esse tempo e eu aceitei. A fim de preencher um pouco a cabeça, quando voltei a brincar de ser blogueiro de TI escrevendo para o (dev.to)[dev.to/lucasscharf], quando me formei no IGTI, foi o ano que conheci a palavra de Quarkus e passei a divulgar. Desde o começo do trampo com Quarkus, acreditei que ele seria o novo hype. Se fosse um dos primeiros a mexer com isso no BR, eu estaria em vantagem. No geral, esse rolê com Quarkus e blogueirar com TI foi meu primeiro contato com esse lance de comunidade. O Quarkus não foi a novidade que eu esperava, mas a comunidade foi algo legal.

2021 veio com muitas mudanças. Começando com o voltar a fazer terapia com psicólogo. Num belo dia, estava acompanhando a Bruna fazer aula de motociclismo. Como ela estava indo bem e eu fui navegar no linkedin. Nisso vi um anúncio que as inscrições para o mestrado estavam abertas, pensei comigo: por que não? Falei com minha namorada e ela apoiou a ideia, falei com meu chefe na época e ele disse que se eu mantivesse as entrega em dia, não se importava com os horários que eu fizesse as coisas. Queria fazer o mestrado, queria enfrentar a UFSC, queria mostrar para ela que eu estava pronto e eu não ia desistir dessa vezes - mas aí vieram os desafios. Ainda me sentia muito envergonhado com a ideia de passar perto do departamento de estatística, por algum motivo extremamente egocêntrico achava que as pessoas iriam lembrar de um aluno abaixo da média 10 anos depois e que iriam - de alguma forma - me desmerecer por isso. Falando em voz alta, parece algo meio bobo, mas era assim que eu me sentia. Descidi que iria trabalhar na área de sistemas distribuídos e que escolheria algum professor totalmente diferente de todos que eu tive na UFSC. Nessa fase, qualquer menção a minha primeira passagem pela UFSC poderia poderia abalar muito minha convicção. Para minha sorte, havia um professor que estava na universidade há menos de dois anos e era da área de sistemas distribuídos. Tudo se encaixou muito bem. Mandei um e-mail para ele me apresentado, dizendo que tinha uma ideia de trabalho para fazer e perguntando se ele aceitava ser meu orientador. Com o aceite dele, fiz todo o processo seletivo para o mestrado na UFSC. Me lembro de ter estado bem apreensivo quando fui ver o resultado da UFSC, eu já não era mais aquele garotinho que achava que ia passar nas coisas porque sim e que tudo ia funcionar para ele porque as coisas funcionavam quando ele se esforçava por isso. Apesar disso, fui um dos 12 aprovados. Também no ano de 2021 estava com problemas no trabalho. Ele estava me comendo vivo. Entre episódiso de assédio moral com um cliente, semanas dormindo 4 horas por noite, liderança de times e pessoas, eu estava desanimado da V2com. Ao mesmo tempo, eu sentia que devia algo pelo meu chefe que havia permitido fazer o mestrado e eu considerava um amigo (se você tá lendo isso Rocha, saiba que você é top <3). Porém, lidar com aqueles clientes era algo que não estava dando certo para mim. Por causa disso, decidi que só sairia se tivesse uma oferta que fosse tão ridiculamente alta que não teria como recusar no mínimo R$15.000,00. Era uma época quente no mercado, a pandemia tava pressionando os salários para cima e eu recebia umas 2 ou 3 propostas de entrevistas por semana. Apesar disso, essas propostas morriam quando eu falava a minha expectativa salarial. Me lembro de um processo seletivo que me incomodou muito para trabalhar para o grupo BEES (braço tecnológico da AmBev) onde fui até o final para o camarada me oferecer R$12.000,00. Até que um bela tarde de novembro a dona Camila W entra em contato comigo como várias outras recrutadoras já haviam feito; eu digo minha expectativa de salário como já havia dito várias outras vezes; e ela diz que está dentro do orçamento dela. Pera, ela disse que estava dentro do orçamento? Isso nunca havia acontecido. Eu comecei a entrar em parafuso porque não sabia o que fazer. Como assim estava dentro do orçamento? No fim, apoiado pela Bruna, resolvi fazer o processo seletivo nem que seja apenas para conhecer a empresa para ver como que ia ser a empresa. Num dos processos seletivos mais rápidos da minha vida, em 9 dias eu já estava contratado pela Trustly.

Já o ano de 2022, foi mais suave. Só pensei em sair da Trustly em uns 4 momentos diferentes, conversei pelo menos 2 vezes com meu orientador sobre desistir do mestrado, cogitei terminar com a Bruna pelo menos uma vez, minha mãe pegou covid e ficou muito mal, eu peguei covid e uma das gatinhas que eu havia adotado no ano anterior faleceu. Talvez não tenha sido um ano tão suave assim. Apesar de tudo, o ano de 2022 foi mais voltado para consolidar as mudanças ocorridas no ano de 2021. Existem projetos que não acontecem de um dia para o outro. É como plantar um feijãozinho no álgodão. Por mais que você coloque água e fique olhando para ele, ele não vai crescer mais rápido. O ano de 2022 foi o tempo necessário para o que feijão do mestrado, do blog e da Trustly crescessem bem.

Enfim chegamos ao ano de 2023. Que ano intenso. Pedi duas extensões do mestrado, tive uns três artigos recusados, defendi meu exame de qualificação e tive um artigo aceito para o 49o LADC. Meu trabalho se estabilizou, tive que bater de frente com um tanto de gente pra ganhar meu espaço, tive que dizer um tanto de não, tive que fazer outras conseções e acho que agora tenho uma noção do que um arquiteto de software faz. Criei meu blog com domínio próprio domínio próprio (https://aleatorio.dev.br), viralizei em uma meia dúzia de postagens no linkedin, criei um twitter, padronizei minhas contas, passei a usar foto de anime e organizei um concurso cultural - valendo um XBox - em pró do Instituto Aaron Swartz. Adotei mais dois gatos, perdi uma. Pedi a Bruna em casamento (pra minha sorte, ela disse sim), e agora estou sentado no aeroporto na frente de um café ridiculamente caro com um sorriso meio bobo na cara e pensando. Que ano do caralho, imagina o que vamos ter em 2024.

E com isso chegamos até o presente momento da minha jornada. Se você quiser ver um resumo das lições que eu aprendi, basta vir aqui.

Esta postagem está licenciada sob CC BY 4.0 pelo autor.

Comments powered by Disqus.